Investigação mostra participação ativa do ex-presidente na elaboração da minuta para contestar resultado das eleições e na negociação com militares que comandariam golpe
O ex-presidente Jair Bolsonaro é apontado como um dos envolvidos na tentativa de golpe de estado, planejada para ocorrer em 2022. Ele teria elaborado uma minuta para contestar o resultado das eleições presidenciais e pedido apoio a militares, durante encontros no Palácio da Alvorada. As informações estão no relatório da Polícia Federal, que teve sigilo retirado nesta terça-feira (26/11) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O documento mostra ainda que Bolsonaro recebeu do então assessor da presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Garcia Martins, e do advogado Amauri Feres Saad uma minuta de decreto para o golpe de Estado. Nela, estava previsto uma ruptura institucional para impedir a posse do governo eleito através da Decretação do Estado de Defesa, no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, e a criação da Comissão de Regularidade Eleitoral para apurar a “conformidade e legalidade do processo eleitoral”. Após isso, seriam feitas novas eleições.
Inicialmente, o documento previa a prisão dos ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). No entanto, Bolsonaro teria alterado a resolução, prevendo a prisão somente de Moraes.
Aprovação de militares
Após ajustes no decreto, Bolsonaro teria, então, convocado uma reunião com os comandantes das Forças Armadas no Palácio da Alvorada para que o seu assessor, Filipe Martins, apresentasse o texto. O encontro com os militares ocorreu em 7 de dezembro, mas a ideia não teve adesão.
Com isso, dois dias depois, Bolsonaro chamou à residência oficial o general Estavam Theóphilo, então comandante do Exército Brasileiro, para pedir apoio na execução do plano. Theóphilo teria aceitado.
O militar ficaria responsável pela prisão ou execução de Moraes em 15 de dezembro de 2022 e, no dia seguinte, seria instalado o Gabinete Institucional de Gestão de Crise. O grupo seria formado quase totalmente por militares, sob comando dos generais Heleno e Braga Netto, com a participação de Filipe Martins.