Estudo aponta desafios enfrentados por pacientes da região e contribui para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde
Uma pesquisa realizada no Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU-Univasf), vinculado à Rede Ebserh, apontou a importância da ação rápida e a eficácia do uso do fármaco alteplase no caso de pacientes com acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico ou Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido pelo termo derrame. Em média, 840 casos suspeitos de AVC são atendidos por ano na instituição.
O hospital universitário, que atende uma média mensal de 70 pacientes com suspeita de AVC, realizou o levantamento desses atendimentos entre 2020 e 2023. A pesquisa, coordenada pelo chefe da Unidade de Gestão de Pós-Graduação e preceptor em Clínica Médica do hospital, Orlando Vieira Gomes, e conduzida pela residente Marcela Alencar Granja, revelou que o uso rápido do medicamento pode reduzir as sequelas do AVC e aumentar as chances de recuperação.
“Isso facilita a análise em uma população real e fornece informações valiosas sobre a eficácia do tratamento”, justificou Marcela Granja, que apresentou esta pesquisa como o trabalho de conclusão de sua residência em Clínica Médica. A médica explicou também que usou a metodologia de coorte retrospectivo – que analisa dados já coletados no passado para investigar os resultados em um grupo de pacientes – porque esta estratégia permite examinar as experiências e os desfechos dos pacientes tratados com alteplase, utilizando prontuários já existentes.
Sintomas, tempo de atendimento e eficácia do tratamento
Dor de cabeça intensa, perda visual, principalmente quando afeta apenas um lado, dificuldade repentina de falar ou compreender o que se fala, tontura ou desequilíbrio súbitos e perda súbita da força, formigamento e/ou dormência em um dos lados do corpo estão entre os principais sintomas de um derrame.
No estudo, a hipertensão foi o principal fator de risco para acidente vascular encefálico isquêmico apontado. “A maioria dos pacientes chegou ao hospital depois de 90 minutos do início dos sintomas, o que é preocupante. Após o tratamento com o medicamento alteplase, os pacientes melhoraram significativamente em 24 horas. A taxa de complicações graves, como hemorragias, foi baixa, e a mortalidade foi de 7,2%, o que é menor do que em outros estudos. Isso indica que o tratamento é eficaz e que agir rapidamente pode fazer a diferença na recuperação dos pacientes”, detalhou Orlando Vieira.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa, procurar atendimento médico imediato ao surgirem os sintomas de um derrame é fundamental, uma vez que o tempo é decisivo para o sucesso do tratamento. “Quanto mais rápido o paciente receber a trombólise (tratamento com alteplase), maiores são as chances de minimizar os dados ao cérebro, reduzir as sequelas e melhorar a recuperação”, disse o preceptor.
Qualidade de vida e prevenção ao AVE
O estudo concluiu ainda que hábitos como tabagismo e má alimentação estão associados a um aumento no risco de AVE, com a hipertensão arterial sistêmica sendo o fator de risco mais prevalente. “Essa relação enfatiza a importância de intervenções preventivas focadas na modificação desses hábitos para reduzir a incidência de AVE na população”, afirma Orlando Vieira.
Os pesquisadores destacaram a importância deste tipo de estudo, considerado um dos maiores trabalhos desenvolvidos na região do Vale do São Francisco e publicados sobre o tema, oferecendo uma visão abrangente sobre a prevalência e os desfechos relacionados ao AVE, melhorando os cuidados e prevenindo complicações na população da região.
“A análise detalhada dos dados contribui de maneira valiosa para a compreensão das características e desafios enfrentados pelos pacientes na região. Esses dados têm o potencial de informar e orientar políticas públicas de saúde, visando a melhoria dos cuidados e a implementação de estratégias mais eficazes para o manejo do AVE na população local”, concluíram os pesquisadores no material apresentado.