Pe. Izidorio da Diocese de Salgueiro, emite Carta Aberta à Governadora e Deputados Estaduais repudiando “tentativa de privatização” da Compesa

CARTA ABERTA À GOVERNADORA DE PERNAMBUCO E AOS SENHORES DEPUTADOS(AS) ESTADUAIS!

Prezada Governadora Raquel Lyra e Senhores(as) Deputados(as) Estaduais de Pernambuco. A minha consciência, exige-me como cidadão pernambucano, cristão e presbítero que sou, dirigir-me às Vossas Excelências para manifestar meu profundo repúdio à tentativa de privatização da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), patrimônio inestimável do povo pernambucano.

A COMPESA, ao longo de décadas, tem sido responsável pelo abastecimento de água e saneamento básico em nosso estado. No entanto, estamos assistindo a uma política deliberada de sucateamento dos serviços públicos, uma estratégia conhecida e ardilosa que busca justificar a transferência de bens essenciais para a iniciativa privada sob o argumento de ineficiência.

A Constituição Federal de 1988 estabelece uma série de princípios e normas que visam proteger o patrimônio público e impedir que governantes realizem a venda de bens estatais em prejuízo dos interesses coletivos. Entre os principais dispositivos que garantem essa proteção, destacamos: a) Princípio da supremacia do interesse público, ou seja, que o interesse coletivo deve prevalecer sobre os interesses privados (CF 1988, Art. 1º e Art. 3º); b) Princípio da legalidade, moralidade e publicidade (CF 1988, art. 37), isto é, a administração pública deve seguir regras claras, agir com ética e transparência em qualquer processo de alienação de bens públicos.

Igualmente, os artigos 37 e 173 da Constituição Federal estabelecem que a venda de empresas públicas e sociedades de economia mista deve ser aprovada pelo Poder Legislativo. Responsabiliza-se aqui os senhores e as senhoras deputados e deputadas estaduais de Pernambuco. Um dia, não muito distante os senhores e as senhoras estiverem andando pelas estradas desse Estado pedindo um voto de confiança para representar os pernambucanos e as pernambucana e defender-lhes os seus interesses. É, portanto, chegado este momento, por isso mesmo lhes pergunto: de que lado e a favor de quem vossas excelências ficaram? Os senhores deputados e as senhoras deputadas irão defender o povo ou se renderão à senhora Governadora em troca de favores e acordos políticos?

Neste caso concreto, defender o povo, é exigir da senhora governadora Consulta Popular e Audiências Públicas verdadeiras e não a maquiagem que ela fez, com as pseudas “audiências públicas” ferindo assim o princípio da gestão democrática (CF 1988, Art. 1º, parágrafo único, e art. 14).

Aos senhores deputados e às senhoras deputadas estaduais de Pernambuco, cumpri-me o dever, a obrigação e a indignação ética, de recordar-lhes que vossas excelências foram eleitas para o Legislativo Estadual, para a regulação, fiscalização e o controle do patrimônio estatal (CF 1988, Art. 175): Isso impõe aos senhores e às senhoras a obrigação de assegurar que os serviços públicos essenciais sejam prestados pelo Estado garantindo, por isso mesmo, a continuidade, a universalidade e a modicidade tarifária destes mesmos serviços públicos.

Impõe-se, igualmente, aos senhores e às senhoras defender e exigir da governadora que a Propriedade Pública cumpra o princípio da função social, isto é, que o patrimônio estatal – neste caso específico – a COMPESA seja utilizada em benefício da sociedade, impedindo que a privatização prejudique direitos básicos (CF 1988, Art. 50, XXIII).

A Constituição impõe limites claros para que governantes não vendam o patrimônio público sem justificativa e sem garantir que isso não afete negativamente os direitos da população. Privatizações devem obedecer aos princípios da legalidade, transparência, participação popular e supremacia do interesse público. A privatização de empresas de saneamento tem demonstrado, em diversas experiências pelo Brasil – cito apenas a título de exemplo Manaus, Tocantins e São Paulo – e pelo mundo, que o lucro passa a ser a prioridade, em detrimento do acesso universal à água e ao saneamento. O resultado? Aumento das tarifas, piora na qualidade dos serviços e exclusão das populações mais vulneráveis, que não representam um mercado lucrativo para empresas privadas.

O saneamento básico é um direito fundamental e não pode ser tratado como mercadoria! A COMPESA precisa ser fortalecida, não desmantelada. Investir na empresa pública, garantir sua modernização e a valorização de seus trabalhadores são caminhos viáveis e justos para a melhoria dos serviços, sem que seja necessário entregar um patrimônio coletivo nas mãos de grupos privados cujo único objetivo é o lucro.

Além disso, a privatização da COMPESA fere o princípio da soberania popular, pois os pernambucanos não concederam mandato a este governo para dispor de bens públicos dessa forma. É imprescindível que um debate amplo e transparente seja realizado, ouvindo a população e os trabalhadores da companhia, antes que decisões irreversíveis sejam tomadas.

Diante disso, é preciso dizer um basta e exigir:

1. A suspensão imediata de qualquer ação voltada à privatização da COMPESA;

2. A realização de audiências públicas em todas as regiões do estado para discutir o futuro da companhia;

3. Transparência nas arrecadações e nos investimentos e gestão da COMPESA, garantindo um modelo público eficiente e acessível; Dados apresentados pelo Transnational Institute – TNI – revelam que, entre 2000 e 2019, mais de 267 cidades em 37 países reverteram processos de privatização no setor de água e saneamento devido aos prejuízos enfrentados pela população. Isso evidencia que a gestão pública pode, precisa e deve ser melhorada, porém, ainda é a melhor escolha e que privatizar não é a solução!

Por fim, é preciso que a senhora governadora mostre ao povo pernambucano a arrecadação da COMPESA dos últimos anos, mas apresente também à população o quanto da sua receita tem sido investido em melhorias da própria Companhia para que ela tenha condições de prestar serviço de qualidade ao povo pernambucano. A tática de anunciar e propagar o caos social, a desvalorização da coisa pública, para depois querer justificar as privatizações e a venda das estatais já é bem conhecida e faz parte das práticas de alguns grupos políticos e de certas personalidades do mundo da política. Porém, permita-me dizer senhora governadora Raquel Lyra, este é um golpe baixo na população!

Recordar é viver! Água é um direito, não um negócio. É inadmissível que interesses privados se sobreponham ao bem-estar do povo pernambucano.

Salgueiro-PE, 12 de fevereiro de 2025.
Pe. Izidorio Batista de Alencar

Verifique também

Vereador Rony Russo garante água encanada para famílias do Morro de Nossa Senhora da Conceição em Cabrobó

Após mais de quatro anos de espera, os moradores do Morro de Nossa Senhora da …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

planetsorare.com/pt/ bonus de cassino online