Maria Caminhoneira Sertania: uma história de coragem feminina nas estradas do Sertão

Em Maria Caminhoneira Sertania e seus contos heroicos, românticos, sertanejos, que acabou virando roteiro de cinemaSamuel Britto começa e termina uma história como manda a tradição do sertão: em forma de cordel, chamando o leitor a escutar com atenção uma prosa que carrega a verdade dura e bonita de seu povo. Maria Sertania Ferreira da Conceição Ventura é uma mulher preta, sertaneja, de pouco estudo, coração gigante e coragem fora do comum. No sertão de Pernambuco, entre 1970 e 1990, ela transforma o próprio sonho em ferramenta de sobrevivência.

Desde menina, carrega um desejo antigo: dirigir um caminhão. Um sonho grande demais diante do machismo, do racismo e da violência social da época. No entanto, após a morte trágica do marido caminhoneiro e a dolorosa perda do filho caçula durante o parto, ela se vê como mãe solo, obrigada a assumir o volante do velho caminhão-pipa Trovoada, que se torna uma extensão de sua identidade.

Pelas poeirentas e saudosas estradas sertanejas, Maria Sertania leva água para quem sofre com a seca, mas carrega também histórias, tradições e dores. Mesmo precisando do dinheiro para sustentar os filhos, muitas vezes não consegue negar ajuda a quem nada tem. No Trovoada, decorado com objetos de devoção, ela enfrenta longas jornadas de sol escaldante e humilhações silenciosas. Porém, sem perder a esperança de uma vida melhor, segue de pé, orgulhosa de sua origem e do legado que construiu para os filhos e para o povo.

Em alguns momentos na boleia do seu velho caminhão Trovoada, ou às vezes no quarto antes de dormir, Maria Caminhoneira Sertania começa a pensar, a ter e a conviver com o seguinte desejo: Sonho qui vai chegá o dia qui todas as Maria Sertania do Sertão, do Nordeste, do Brasil e do mundo, vão chegá aondi quisé, no seu pensamento simples e sertanejo. (Maria Caminhoneira Sertania e seus contos heroicos, românticos, sertanejos p.182)

A narrativa se amplia ao apresentar personagens que espelham as múltiplas faces do sertão: filhos que crescem e constroem seus próprios caminhos, relações atravessadas por preconceitos, e a chegada do poderoso fazendeiro árabe Zayn Al-Madini, que tenta impor ordens sobre a sertaneja. Resistente, ela permanece firme, expondo as desigualdades e as estruturas de poder da região.

Entre cordel, drama, romance e luta, Samuel Britto, também do sertão pernambucano, adere ao regionalismo linguístico para valorizar a oralidade e a cultura local como expressão identitária. “Meu objetivo na escrita é promover, acima de tudo, o respeito à diversidade e a inclusão regional sem estigmas do nosso povo”, comenta o autor.

Maria Caminhoneira Sertania é, ao mesmo tempo, a história de uma mulher específica e a representação de muitas outras: do sertão, do Nordeste, do Brasil e do mundo. São todas as que resistem, sonham e seguem em frente apesar das adversidades.

FICHA TÉCNICA

Sobre o autor: Samuel Britto é jornalista pernambucano, natural de Petrolina, no sertão do Vale São Franscisco, e pós-graduado em Letras pela Universidade de Pernambuco (UPE). Ao longo da carreira, produziu e roteirizou cerca de 23 mil conteúdos jornalísticos e de entretenimento, com mais de 50 mil personagens, sendo quase 700 histórias nordestinas exibidas em programas nacionais. Maria Caminhoneira Sertania marca sua estreia na literatura e já está presente em livrarias e plataformas digitais de mais de 15 países, além de ter dado origem a um roteiro de longa-metragem aprovado pela Lei Federal de Incentivo Cultural Paulo Gustavo.

Instagram: @sousamuelbritto

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