Lula a Trump sobre publicação pró-Bolsonaro: “Dê palpite na sua vida”

Reação foi a postagem em defesa do ex-presidente. Antes, líder norte-americano ameaçou taxar países do Brics em mais 10% por causa da possibilidade de abandonarem o dólar como moeda comercial

Por Correio Braziliense

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou, ontem, um duro recado a Donald Trump, por conta de postagem numa rede social em que defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na coletiva que se seguiu ao fechamento da reunião do Brics, no Rio de Janeiro, ao ser indagado sobre o que pensava da publicação do líder norte-americano, o brasileiro foi direto: “Dê palpite na sua vida, não na nossa”.

A reação de Lula, porém, contrasta com o gesto de visitar a ex-presidente Cristina Kirchner, entendido pelo governo de Javier Milei como uma intervenção na política interna argentina. Condenada por corrupção e cumprindo prisão domiciliar, ela recebeu o presidente com autorização judicial, na semana passada, quando esteve em Buenos Aires para a cúpula do Mercosul. Lula, inclusive, cobrou a liberdade da ex-presidente.

Para integrantes do governo Lula, as publicações pró-Bolsonaro e uma anterior de Trump atestam que os Estados Unidos estão preocupados com os temas tratados na cúpula do Brics — entre eles, a possibilidade de o bloco dar início às tratativas para adotar moedas locais, em substituição ao dólar, a serem utilizadas em transações comerciais.

Na primeira postagem pela plataforma Truth Social, da qual é dono, Trump tentou intimidar os integrantes do Brics afirmando que as exportações das nações do bloco poderiam ser taxadas em mais 10%, caso contrariassem os interesses dos Estados Unidos. Na segunda, horas depois, saiu em defesa de Bolsonaro e acusou o Poder Judiciário brasileiro de perseguir o ex-presidente, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado, depois das eleições de 2022.

Escreveu Trump: “O Brasil está fazendo uma coisa terrível no tratamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Eu venho assistindo, assim como o mundo, enquanto eles não fazem nada além de ir atrás dele, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano! Ele não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo”.

O presidente norte-americano foi além: elogiou Bolsonaro e classificou-o de “um negociador muito duro” em temas comerciais. Classificou, ainda, as ações judiciais em andamento contra o brasileiro como ataques a um oponente político — disse, inclusive, que sofre o mesmo tipo de perseguição.

“Estarei observando a caça às bruxas contra Jair Bolsonaro, sua família, e milhares de seus apoiadores, bem de perto. O único julgamento que deveria estar acontecendo é um julgamento pelos eleitores do Brasil — chama-se eleição. Deixem o Bolsonaro em paz!”, acrescentou.

Primeira vez

Foi a primeira vez que o presidente dos EUA se manifestou abertamente a favor de Bolsonaro, embora outros integrantes da gestão Trump e de órgãos oficiais governamentais norte-americanos já tenham criticado o governo e o Judiciário brasileiros. Em fevereiro, o Departamento de Estado — equivalente ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro — divulgou uma nota afirmando que decisões do STF contra plataformas digitais dos EUA eram “incompatíveis com os valores democráticos”. O chefe da pasta, Marco Rubio, também anunciou restrições na emissão de vistos a autoridades da América Latina que sejam “cúmplices de censura”, que poderiam atingir o ministro do Alexandre de Moraes, do Supremo.

Pelo Instagram pessoal, Lula mandou um recado a Trump. “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei, sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o Estado de direito”, frisou.

Na coletiva depois do fechamento da cúpula do Brics, Lula aprofundou o assunto. “Sinceramente, nem acho que devia comentar, porque não acho uma coisa muito responsável um presidente da República de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da Internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Nós não queremos imperador. Nós somos países soberanos. Acho muito equivocado e muito irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros nas redes sociais. As pessoas têm que aprender que respeito é bom, é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber. E é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz”, devolveu.

Indagado sobre a defesa de Bolsonaro feita por Trump, Lula reforçou o argumento da soberania. “Não vou comentar essa coisa do Trump e do Bolsonaro. Tenho coisa mais importante para comentar do que isso. Este país tem lei, tem regra. Este país tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida e não na nossa”, disse.

Auxiliares de Lula também dispararam contra Trump nas redes sociais. A primeira a se manifestar foi a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann. Disse que o presidente dos EUA está “equivocado” se acha que vai influenciar o processo judicial brasileiro. E que o Brasil só era “subserviente” aos Estados Unidos no governo Bolsonaro.

“O presidente dos EUA deveria cuidar de seus próprios problemas, que não são poucos, e respeitar a soberania do Brasil e de nosso Judiciário”, cobrou Gleisi.

O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, por sua vez, disse que soberania não se negocia. E que o governo vai rechaçar qualquer tentativa de interferência externa.

“Este governo não aceita tutela, nem admite pressões externas que tentem ditar os rumos do país. E muito menos tolerará pressões indevidas contra nossas instituições democráticas, notadamente a nossa Suprema Corte, que tão bem tem servido à defesa da democracia e do Estado de Direito em nosso país”, salientou.

O próprio Bolsonaro foi ao X (antigo Twitter) para agradecer o apoio de Trump: “Recebi com muita alegria a nota do presidente Trump.(…) Esse processo ao qual respondo é uma aberração jurídica (Lawfare), clara perseguição política, já percebida por todos de bom senso. (…) Sua luta por paz, justiça e liberdade ecoa por todo o planeta. Obrigado por existir e nos dar exemplo de fé e resiliência”, postou.

Comemoração

Embora a postagem de Trump em nada altere a situação de Bolsonaro — que está inelegível até 2030, sem contar que a ação pela tentativa de golpe de Estado está avançada no STF —, foi suficiente para galvanizar os bolsonaristas. O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — que se autoexilou nos Estados Unidos dizendo-se perseguido político — exultou com a postagem do presidente norte-americano e sugeriu que outras ameaças devem acontecer em breve.

“Esta não será a única novidade vinda dos EUA neste próximo tempo. Aproveito para agradecer a todos que se empenham nesta batalha”, afirmou. O parlamentar também compartilhou uma postagem de Jason Miller, ex-conselheiro de Trump, que declarou: “As coisas estão mudando. Quem toma o tapa não esquece”.

Líder da oposição na Câmara, o deputado Zucco (PL-RS) interpretou a postagem do presidente dos EUA como um alerta de uma das “maiores lideranças mundiais”. “A fala de Trump representa muito mais do que um gesto de solidariedade pessoal. É uma demonstração de que a situação brasileira já rompeu as barreiras da política doméstica e se tornou um caso de repercussão internacional”, observou.

Já o líder do partido de Bolsonaro na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), protocolou uma moção de apoio a Trump. Segundo o parlamentar, o gesto do presidente norte-americano “quebrou o silêncio global” e representa um posicionamento claro em defesa da democracia.

“Bolsonaro não está sendo perseguido por crimes, mas por ter lutado pelo povo. Trump defendeu o direito do povo brasileiro de escolher seus líderes nas urnas, não em tribunais aparelhados”, afirmou.

Outros bolsonaristas reproduziram a postagem de Trump. Um deles foi o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que escreveu: “Com a palavra, presidente Donald Trump: Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente!”.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), por sua vez, afirmou que autoridades internacionais não compreendem o motivo da suposta perseguição ao ex-presidente: “Trump conhece Bolsonaro e não se omite quando precisa defendê-lo”, destacou.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou a imagem da fala de Trump e comentou: “Falou e disse. Cirúrgico!”. O senador Marcos Rogério (PL-RO) reforçou que a postagem do presidente dos EUA reflete a opinião de milhões de brasileiros.

“Não há crime, não há culpa. Há apenas perseguição contra quem teve coragem de enfrentar o sistema e governar com o povo. Essa tentativa de tirá-lo do jogo não engana mais ninguém”, afirmou.

Na imprensa internacional, veículos como agências Reuters e Associated Press, além do jornal inglês The Guardian, deram espaço à publicação de Trump. A Reuters reproduziu o pedido do presidente dos EUA para que as autoridades brasileiras “deixem Bolsonaro em paz”, enquanto o Guardian destacou que o líder norte-americano considerou que Bolsonaro “não é culpado de nada” e sofre “perseguição política”.

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