Durante sessão no Supremo Tribunal Federal (STF) desta quinta-feira (22) o ministro Flávio Dino surpreendeu ao ler, em plenário, uma mensagem ofensiva recebida por meio da ouvidoria da Corte. O conteúdo, sem identificação, trazia insultos e ameaças direcionadas ao magistrado, incluindo o apelido pejorativo de “rocambole do inferno”.
A leitura foi feita durante o voto do ministro em ações que questionavam a criação de cargos operacionais nos tribunais de contas dos estados de São Paulo e Goiás. Dino usou o episódio para ilustrar o que chamou de “tempos de ódio”.
“Eu recebi hoje, vindo da ouvidoria do Supremo, uma postagem muito gentil de um cidadão. ‘O ladrão, esse bandido, estava nas ruas pedindo a anistia para ladrão de banco, assassinos’. Aí cita, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dilma Rousseff e outros. Eu tinha 11 anos e posso garantir que estava jogando bola, brincando de carrinho. Ele disse que eu sou canalha (…) Ele me chama de Rocambole do inferno”, relatou o ministro.
Com tom irônico, Dino ainda comentou a criatividade da mensagem: “Vou perguntar para minha esposa o que ela acha, e ela vai dizer: ‘Você é meu rocambole, não do inferno’”, afirmou.
Apesar da leveza ao comentar parte do conteúdo, Dino ressaltou a gravidade das ameaças. Segundo ele, o texto continha ainda a sugestão de que ele “deveria apanhar até perder os dentes”. Ao concluir a leitura, o ministro afirmou que decidiu trazer a mensagem ao conhecimento da Corte para ilustrar o clima de intolerância atual.
“O espírito do tempo é de cultivo de ódios e desvarios, numa escala criminosa, delituosa. Porque isso ganha materialidade. As caixas de comentários das redes sociais ganham densidade quando elas penetram na mente humana e se transformam de força material. Por isto mesmo, nós precisamos, quando julgamos, levar as consequências práticas”, concluiu Dino.