Itawan Pereira trabalhou com Leo de Brito (PT-AC) antes de ingressar na Polícia Federal e hoje lidera investigações contra o ex-presidente
O delegado da Polícia Federal Itawan de Oliveira Pereira, autor do relatório que fundamenta o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), já ocupou cargo comissionado na Câmara dos Deputados, onde atuou no gabinete do deputado petista Leo de Brito (PT-AC).
Segundo registros oficiais da Câmara, em 2015, Itawan foi nomeado para exercer função de confiança no gabinete do parlamentar do Partido dos Trabalhadores, permanecendo no posto até 2019, quando ingressou na Polícia Federal. A informação foi divulgada inicialmente pelo portal Claudio Dantas e confirmada pela Revista Oeste.
Antes de atuar como delegado, Itawan também passou por escritórios de advocacia em Brasília e no Acre, além de ter cursado especialização em Processo Legislativo na própria Câmara dos Deputados.
Delegado é citado como testemunha por réu em processo do STF
Itawan figura entre as testemunhas listadas na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado. O coronel da reserva Marcelo Câmara, ex-assessor direto de Jair Bolsonaro e um dos réus no processo em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), incluiu o delegado em uma lista de 23 nomes arrolados para compor sua defesa.
Relatório cita repasses bancários e conversas políticas da família Bolsonaro
No relatório recentemente enviado ao STF, o delegado detalha operações financeiras realizadas por Jair e Eduardo Bolsonaro, acusando-os de utilizar “diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros”, com o objetivo de financiar atividades consideradas ilícitas por parte do parlamentar que se encontra no exterior — em referência a Eduardo Bolsonaro, licenciado da função parlamentar durante viagens.
O documento cita como exemplo transferências bancárias de R$ 2 milhões feitas por pai e filho às suas respectivas esposas, afirmando que os valores foram fracionados e repassados com estratégias semelhantes, o que levantou suspeitas por parte da investigação.
Além das movimentações financeiras, o relatório também transcreve mensagens trocadas entre Jair e Eduardo Bolsonaro, em que discutem relações políticas com a Casa Branca e fazem menções a ministros do STF. Em algumas conversas, Eduardo discorda do pai sobre temas como propostas de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Delegado ocupa cargo estratégico na Contrainteligência da PF
Atualmente, Itawan Pereira integra a Coordenação de Investigação e Operações de Contrainteligência da Polícia Federal, setor reservado para delegados com experiência e perfil técnico. Apesar da polêmica envolvendo sua ligação anterior com um parlamentar do PT, a direção da PF informou que não comentaria o caso, quando questionada pelo portal Claudio Dantas sobre possível conflito de interesses.