A ciência tem sido uma grande aliada na luta pela conservação da biodiversidade aquática do Brasil. Entre os dias 1º e 5 de setembro, o Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna/Univasf) esteve representado em um encontro decisivo para a preservação da ictiofauna do país: as Oficinas de Avaliação do Risco de Extinção de Peixes Continentais Amazônicos da Ordem Siluriformes e da Ecorregião São Francisco e Bacia do Rio Doce, realizadas em Iperó, São Paulo. O evento foi organizado em conjunto pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (CEPAM) e pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Aquática Continental (CEPTA).
Durante cinco dias, especialistas de diversas regiões do Brasil se dedicaram a avaliar o estado de conservação de 297 espécies de peixes de água doce. No total, 47 pesquisadores participaram das discussões, entre eles os biólogos Silvia Gutierre e Augusto Bentinho e o médico veterinário Giancarlo Galvão, vinculados ao Cemafauna, que contribuíram ativamente para a análise dos dados e a construção de cenários sobre o futuro das espécies avaliadas. A oficina também contou com a equipe de facilitação e relatoria do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Os resultados chamaram a atenção. Dezesseis espécies foram incluídas em categorias de ameaça, sendo classificadas como Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) ou Vulnerável (VU). Outras 16 entraram na categoria de Quase Ameaçadas (NT). Entre os exemplos mais emblemáticos estão o zebrinha (Hypancistrus zebra), espécie endêmica da volta grande do rio Xingu, fortemente impactada pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, e o surubim-do-doce (Steindachneridion doceanum), que perdeu parte de seus habitats devido ao assoreamento e à construção de hidrelétricas. Outro dado que reforça a urgência de investimentos em pesquisa é o número de 41 espécies classificadas como Dados Insuficientes (DD). Esse grupo foi concentrado principalmente entre os peixes da Amazônia, revelando o quanto ainda é necessário aprofundar o conhecimento sobre a distribuição, abundância e ameaças dessas espécies.
Para a coordenadora do Cemafauna, professora Patrícia Nicola, a presença da instituição em iniciativas como essa fortalece a missão de gerar conhecimento científico que pode mudar realidades. “A participação dos nossos pesquisadores nesse encontro é de extrema importância porque reforça o papel do Cemafauna na construção coletiva de conhecimento científico voltado à conservação da biodiversidade brasileira. Estar ao lado de especialistas de várias regiões do país, avaliando o risco de extinção de espécies de peixes, nos permite contribuir com a expertise adquirida ao longo de anos de pesquisa e, ao mesmo tempo, aprender com outras realidades. Cada informação discutida nessas oficinas pode fazer a diferença no futuro de espécies que já se encontram ameaçadas, além de indicar onde precisamos avançar em estudos e monitoramentos. Esse tipo de iniciativa mostra que a ciência é uma ferramenta fundamental para orientar políticas públicas e ações de preservação, garantindo que ecossistemas como o da Caatinga e tantos outros continuem a sustentar vida e gerar equilíbrio ambiental para as próximas gerações.”
As próximas oficinas conjuntas já têm data prevista: agosto de 2026. Antes disso, será aberta a etapa de Consulta Pública, que reúne informações atualizadas sobre as espécies e possibilita a contribuição de diferentes setores da sociedade. Essa fase, que antecede as oficinas, é fundamental para garantir transparência e engajamento na construção de políticas de conservação.
Texto: Jaquelyne Costa
Assessora de Comunicação do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna/Univasf)