Entre 2014 e 2024, o Brasil registrou uma queda de 22% no número de caminhoneiros, reflexo dos riscos constantes nas estradas, baixos salários e condições de trabalho cada vez mais difíceis. Ainda assim, aproximadamente 4 milhões de profissionais continuam riscando as rodovias do país, de norte a sul, de leste a oeste — muitos deles acompanhados pela família.
O caminhoneiro cabroboense Jorge Umberto, com 15 anos de experiência nas estradas brasileiras e da América do Sul, é um desses profissionais que decidiram transformar a boleia do caminhão em um espaço familiar. Ele costuma viajar com a esposa Kelly e os filhos. Desta vez, apenas o filho mais novo, o Gessé, o acompanha; a filha Esther ficou em casa.
Segundo Jorge, quando a família está com ele, a dinâmica da viagem muda completamente: “Quando ela vem, a viagem é diferente. Tenho mais cuidado por causa deles. Viajar com a família faz a gente ter mais um olhar na estrada.”
Kelly confirma que, mesmo quando não acompanha o marido, segue cada quilômetro pelo celular: “É todo o tempo: ‘tá por onde?’, ‘manda mensagem quando entrar em área’, ‘na hora que parar, manda localização’. A gente sempre fica preocupada. É assalto, é acidente… tudo preocupa.”
Ao longo dos anos, Jorge aprendeu a identificar onde os perigos são maiores. Para ele, a BR-251, que liga a Bahia ao Mato Grosso, é disparada a mais perigosa: “Tudo que não presta tem ali. Motorista irresponsável — às vezes da nossa própria categoria — e muito ladrão. Hoje está complicado, viu?”
Mesmo com os riscos, as incertezas e a queda na quantidade de profissionais, a paixão pela estrada acaba passando para as próximas gerações. Tanto que a família se arrepia quando o pequeno Gessé revela, sem hesitar, o que quer ser quando crescer: “Quero ser caminhoneiro.”
Um sonho que reflete a força de uma categoria que, apesar dos desafios, segue movendo o Brasil.
Blog do Didi Galvão

