Jair Bolsonaro foi intimado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, a apresentar defesa no inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. O momento da entrega da intimação por uma oficial de Justiça foi registrado em um vídeo. Deitado na cama do hospital, Bolsonaro criticou seu indiciamento, negou que fosse fugir do país e fez um desafio ao relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes.
“Eu nunca aceitei os benefícios do outro lado e estou aqui. O que eu pretendo fazer? Continuar lutando. Não vou sair do Brasil, não vou fugir do Brasil, fique tranquilo. Não vai ter motivo para decretar [prisão] preventiva minha. O que eu quero é ajudar meu país, só isso. Isso é demais?”, disse o ex-presidente, que passou por uma cirurgia para desobstrução do intestino.
Ao comentar sua inelegibilidade e o chamado “inquérito do golpe”, Bolsonaro fez uma comparação entre as decisões do STF e um “tribunal do Hitler”. “Eleição sem Jair Bolsonaro é uma negação da democracia. O tribunal do Hitler também cumpriu a missão: botar os judeus na câmara de gás. Todos pagaram seu preço um dia. Não vai ser diferente aqui no Brasil”, disse Bolsonaro.
“É uma covardia o que estão fazendo comigo, com essas pobres coitadas como a Débora, presas, 17 anos de cadeia. Tentativa de golpe? Sem arma, sem tropa, sem liderança, sem dinheiro, em um domingo onde Lula saiu cedinho para fugir do clima. É um crime que estão fazendo contra a democracia brasileira”, criticou.
Em um trecho do vídeo, Bolsonaro se dirige diretamente a Alexandre de Moraes para fazer um desafio. O ex-presidente chama o ministro do STF para debater publicamente sobre o caso.
“Sua Excelência, ministro Alexandre de Moraes, eu sei que não faz parte do rito, mas por que Vossa Excelência, já que tem tanta certeza de que eu sou um golpista, que tal nós dois irmos a público, em TV aberta, discutirmos esse processo todo, senhor Alexandre de Moraes? Todo esse processo, nós dois. Não é igual àquelas delações do [Mauro] Cid, aquelas secretas, que vão mudando a cada novo depoimento. Nós dois. Já tem tanta certeza assim de que eu sou um criminoso, vamos lá”, disse.
Bolsonaro disse ainda que, se tivesse “o poder do Alexandre de Moraes”, pediria explicações sobre declarações atribuídas ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Benedito Gonçalves, relator do processo que resultou em sua inelegibilidade. Ele também acusou os ministros do TSE e do STF de “tirá-lo da Presidência”.
“Imagina se eu tivesse o poder do Alexandre de Moraes. Eu ia quebrar o sigilo do ministro Benedito e perguntar para ele o que é ‘missão dada é missão cumprida’. Eu ia buscar, trazer o Alexandre de Moraes para depor também. Assim como outras autoridades do Supremo, perguntar o seguinte: ‘Interferimos, sim, mas foi pelo bem do Brasil’? Me tiraram da Presidência para botar esse cara que está aí, afundando o Brasil”, acusou.
Bolsonaro disse ainda que aceitaria passar “duas ou três horas ao vivo” debatendo sobre as acusações feitas a ele. “Eu estou sendo acusado de tudo: de joias, de vacina, de baleia… tudo. Eu só quero meia hora. Lógico que eu vou me defender, mas eu quero meia hora para falar do meu Brasil. Eu tenho uma proposta para o Brasil”, afirmou.
STF se manifesta sobre citação a Bolsonaro
Após a assinatura da citação por Jair Bolsonaro, o STF se manifestou sobre o caso: “A citação dos réus (Núcleo 1), informando o início da ação penal e a intimação para apresentação de defesa, foi determinada em 11 de abril. Todos os réus já haviam sido citados entre os dias 11 e 15 de abril.”
“Em virtude da internação do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi determinado que se aguardasse uma data adequada em que pudesse, normalmente, receber o oficial de Justiça. A divulgação de live realizada pelo ex-presidente na data de ontem (22/4) demonstrou a possibilidade de ser citado e intimado hoje (23/4).”