O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse a empresários, banqueiros e representantes do mercado que vai indultar o ex-presidente Jair Bolsonaro se for eleito presidente em 2026.
Em conversas reservadas, Tarcísio tem afirmado que o perdão a Bolsonaro seria um preço “barato” a pagar pela “pacificação” do país.
Nessa hipótese, o ex-presidente ficaria livre da cadeia, mas não teria seus direitos políticos recuperados antes de 2030.
Bolsonaro enfrenta um processo por tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal já em fase de alegações finais e foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nas conversas relatadas à coluna, Tarcísio insiste que pretende disputar a reeleição ao governo de São Paulo, mas, ao ser questionado se daria o indulto, afirma categoricamente que sim, “da mesma forma que qualquer outro candidato da direita [daria]”.
Interlocutores do governador e também líderes do centrão ouvidos pela coluna acreditam que, se bem negociado, o indulto poderia ser aceito pelo STF.
A aposta é que os ministros do Supremo entenderiam a necessidade de “pacificação”, a despeito dos crimes cometidos por Bolsonaro e dos ataques do ex-presidente à Corte desde que ele permaneça longe da urna.
“Até mesmo o ministro Alexandre de Moraes precisa de paz. Ele precisa voltar a ter vida pessoal”, disse um líder político.
Os apelos pela “pacificação” tem vindo também do setor privado.
Nas rodas entre políticos do centrão e empresários, prevalece o entendimento que “o Brasil precisa superar a polarização entre o PT e o bolsonarismo para o investimento deslanchar”. E o governador de São Paulo é apontado como o político que poderia conduzir esse processo.
Lealdade e traição
O indulto seria necessário, contudo, para conseguir o apoio de Bolsonaro à candidatura de Tarcísio.
Sem o ex-presidente, interlocutores afirmam que Tarcísio não vai tentar o Planalto e deixar uma reeleição quase certa ao Palácio dos Bandeirantes.
A lógica é não dividir a direita para o enfrentamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e evitar a marca de “traidor”.
“A pecha de traidor é mortal para a política. Quem trai um padrinho político, trai o eleitor, trai suas promessas. Tarcísio não vai fazer isso”, disse o presidente de um partido.
Bolsonaro, no entanto, já estaria mais convencido da necessidade de apoiar a eventual candidatura do seu ex-ministro.
Uma ala próxima ao ex-presidente ainda defende o lançamento de um nome da família, como o deputado Eduardo Bolsonaro ou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Esses aliados também reclamam do que classificam como falta de apoio de Tarcísio e pedem um enfrentamento maior com o Supremo. No último domingo, no ato bolsonarista na avenida Paulista, o governador evitou falar do STF.
Interlocutores de Tarcísio, contudo, afirmam que quem briga com o STF prejudica Bolsonaro, porque fecha portas de diálogo na corte.
‘Fora PT’
A avaliação de pessoas próximas é que Bolsonaro começa a entender a necessidade de abandonar qualquer projeto político e focar na vida pessoal, na saúde e em garantir sua liberdade.
Políticos do centrão e empresários têm feito chegar o alerta de que, se o ex-presidente for o responsável por um racha da direita que possibilite a reeleição de Lula, ele será abandonado a própria sorte e ficará sujeito ao tempo de cadeia determinado pelo Supremo.
O principal foco de boa parte hoje do empresariado, incluindo o agronegócio, é tirar o PT do poder, apurou a coluna. O agronegócio sempre foi um pilar importante do bolsonarismo.
No ato de domingo na avenida Paulista, Tarcísio deu voz ao desejo desse grupo, quando, ao mesmo tempo em que jurava lealdade ao ex-presidente, dizia que “a sociedade não aguenta mais o PT”.
Lula já deu conta dessa movimentação e de que foi “abandonado” pelo centrão e pelo setor privado. A derrota do IOF no Congresso foi o ponto de virada.
Por isso o presidente decidiu dobrar a aposta no enfrentamento de “ricos” contra “pobres” e na “justiça social e tributária”.