O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), além de solucionar histórica escassez de água no semiárido nordestino, é considerada a maior obra de infraestrutura da América Latina com mais de 477 quilômetros de extensão
Brasília (DF) – O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) é a maior obra de infraestrutura hídrica da América Latina. Mais do que um marco da engenharia nacional, a transposição do Velho Chico representa uma solução histórica para a escassez de água no semiárido nordestino. O Projeto de Integração do Rio São Francisco faz parte da Política Nacional de Recursos Hídricos, coordenada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Com 477 quilômetros de extensão, ele conecta os estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, transformando a vida de cerca de 12 milhões de brasileiros.
A proposta do PISF é garantir segurança hídrica em uma região onde a oferta de água é limitada e a seca compromete a subsistência de milhares de famílias. Embora o Nordeste concentre 28% da população brasileira, apenas 3% da água disponível no país está na região. Diante desse cenário, a transposição do São Francisco surge como uma resposta estratégica para reduzir desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável.
Uma solução esperada há séculos
A ideia de levar as águas do São Francisco para regiões áridas do Nordeste remonta ao período imperial, mas só começou a sair do papel em 2007. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nordestino de origem, enfatiza a importância da obra. “Não topei isso porque sou bonzinho, mas porque com sete anos de idade eu já carregava balde de água na cabeça, andando pra cima e pra baixo com a barriga cheia de esquistossomose”, relembra.
Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a transposição do São Francisco é a alternativa mais eficaz para garantir o abastecimento de água na região. Além disso, a obra está alinhada à Política Nacional de Recursos Hídricos, reforçando o compromisso do governo com o bem-estar da população nordestina.
O Rio São Francisco, responsável por 70% da oferta hídrica da região, é um aliado fundamental no combate à estiagem. A transposição busca levar um recurso essencial a comunidades onde a natureza frequentemente falha, mitigando os impactos da seca na agricultura, pecuária e na vida cotidiana.
Infraestrutura e impacto social
Dividido em dois eixos – Norte (260 km) e Leste (217 km) – o projeto envolve uma infraestrutura robusta, composta por:
• 13 aquedutos
• 9 estações de bombeamento
• 27 reservatórios
• Túnel Cuncas I, o maior túnel de transporte de água da América Latina, com 15 km.
Os benefícios do PISF vão além da estrutura física. Ao todo, 294 comunidades rurais serão diretamente beneficiadas, incluindo 12 comunidades quilombolas, 23 etnias indígenas e 9 assentamentos do INCRA. Para essas populações historicamente vulneráveis, a chegada da água significa mais do que conforto: representa dignidade, segurança alimentar e novas oportunidades econômicas.
Para o secretário Nacional de Segurança Hídrica do MIDR, Giuseppe Vieira, garantir o acesso à água no semiárido e em regiões de baixa pluviosidade, por meio do PISF é uma prioridade. “Sua importância para o Nordeste setentrional é imensa, pois hoje milhares de pessoas no Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte recebem água de qualidade e em quantidade adequada graças à transposição. É um marco histórico para a segurança hídrica da região”, explica o secretário.
Desafios e governança
Apesar dos avanços, a transposição do São Francisco ainda enfrenta desafios. A manutenção da infraestrutura, a gestão eficiente dos recursos hídricos e a mitigação de impactos ambientais exigirão esforços contínuos.
Para garantir a sustentabilidade da operação, o governo federal prevê um contrato de 30 anos para as atividades de apoio a operação e manutenção, evitando múltiplas licitações de curto prazo. A empresa parceira será escolhida por meio de um processo transparente e monitorada pela Comissão de Acompanhamento da Estruturação da Concessão Administrativa do PISF. O objetivo é otimizar a operação, reduzir custos e assegurar um fornecimento de água confiável para a população atendida.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) abriu uma consulta pública sobre o modelo de gestão do PISF, permitindo que a população contribua para o aprimoramento do projeto. Interessados podem preencher o formulário virtual até 21 de março de 2025, ajudando a definir a melhor estratégia para a operação e manutenção da transposição.
Além disso, durante a Semana da Água, estarão disponíveis para consulta pública os estudos técnicos de engenharia, operação, viabilidade econômica e jurídica do projeto. A participação da sociedade é essencial para garantir que a transposição do São Francisco continue cumprindo seu papel social e econômico de forma sustentável.