Iniciativa transforma água salobra em água potável e amplia o acesso a água ao semiárido brasileiro
Brasília (DF) – A comunidade Nossa Senhora Aparecida em Desterro, Paraíba, sempre viu a água como um recurso valioso e, por vezes, escasso. Para Alana Karla da Silva Medeiros, agricultora de 34 anos, a chegada do Programa Água Doce representou muito mais do que o acesso à água potável: trouxe dignidade, segurança e uma nova perspectiva de vida, especialmente para as mulheres do semiárido brasileiro.
Antes da instalação do dessalinizador, a rotina de Alana e de sua família era marcada pela incerteza. “A gente dependia da água acumulada das chuvas, mas nem sempre dava para chegar até o próximo inverno. Quando a família vinha para se reunir, o consumo aumentava, e muitas vezes passávamos mais de 15 dias sem o caminhão-pipa abastecer”, relembra.
A realidade começou a mudar quando a comunidade foi contemplada pelo Programa Água Doce, uma iniciativa que transforma água salobra em água potável, garantindo abastecimento seguro para mais de 100 famílias, além do grupo escolar e da unidade de saúde local. “O poço já existia há mais de 30 anos, mas estava sem uso. Quando o gestor municipal, junto ao governo federal, trouxe o programa para cá, nossa vida mudou”, conta Alana, que vê de perto os benefícios da iniciativa no seu dia a dia.
Hoje, a água tratada não é usada apenas para consumo humano, mas também para irrigação e manejo de animais, fortalecendo a agricultura familiar. No sítio onde Alana vive com os pais, ela cultiva coentro, mamão, maracujá e tomate-cereja, e a água de qualidade permite que sua produção se mantenha firme para ajudar a família mesmo nos períodos de estiagem. “Água é vida, e hoje a gente tem esse tesouro aqui”, celebra.
Esperança de um futuro tranquilo
O impacto do programa vai além da produção agrícola. Com uma rotina organizada para distribuição — três vezes por semana, das 5h às 11h — cada família cadastrada tem direito a dois garrafões de 20 litros de água potável. O sistema tem uma vazão de 830 litros por hora, garantindo que ninguém fique sem acesso ao recurso essencial.
Para Alana, a gratidão pelo programa se mistura à esperança de um futuro mais tranquilo. “Agora sabemos que, mesmo em tempos de poucas chuvas, teremos água de qualidade para beber, cozinhar e manter nossas atividades. Foi uma das melhores obras já feitas na nossa comunidade”, afirma.
Segundo o IBGE, em 2023, aproximadamente 15 milhões de mulheres ainda residiam em domicílios sem acesso à água encanada, o que representa cerca de 14% da população feminina do país. Neste Dia Internacional da Mulher, histórias como a de Alana reforçam a importância de políticas públicas que transformam realidades e fortalecem as mulheres. O Programa Água Doce é um exemplo para impulsionar a produção e garantir a dignidade para quem, durante tanto tempo, precisou lutar para ter o básico: o direito à água.